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Lucas Madeira, um verdadeiro impressionista tocado pelas impressões da vida. Sempre se deixou deslumbrar pela beleza feminina, ansiando ser um modelo capaz de atrair seus olhares. Entendia que as mulheres apreciavam homens refinados, elegantes, bem-vestidos, inteligentes e de bom gosto. Contudo, o ponto culminante residia no fato de que Lucas, mesmo possuindo recursos para tais extravagâncias, debatia-se com a ideia norte-americana de que, ao ter dinheiro, é possível ser qualquer tolo que se deseje. Nesse contexto, Lucas estava correto, mas se aproximava perigosamente de um patamar em que seus recursos eram apenas suficientes para atingir um status de conquistador barato.

Sim, suas conquistas amorosas se acumulavam, mas eram superficiais, seguindo um enredo digno das novelas das sete (Kubanacan).

Em certo momento, Lucas lançou-se nos meandros da extravagância, oriunda do grego υπερβολή, do alemão Extravaganz, e do italiano la stravaganza. Encontrou-se imerso nesse turbilhão mental, acreditando que o luxo representava uma necessidade imperativa ou simplesmente uma maneira de destacar os homens mais exitosos da sociedade.

A extravagância de Lucas começou a causar escândalo, embora todos nutrissem um leve desejo de estar ali, exercendo o direito de realizar algo totalmente desimportante para a evolução humana.

Como proferiu Robert Quillen, um humorista norte-americano de épocas findas: “Muitas pessoas despendem dinheiro que não possuem para adquirir coisas de que não necessitam, apenas para impressionar pessoas que não apreciam“.

Entretanto, nosso prezado Sr. Madeira, com sua moral oscilante, encontrava sempre meios de reconfigurar a lógica interna e persuadir-se de que suas ações eram justificadas. Em certos momentos, chegava até a interpretar as críticas dos amigos como simples ressentimentos, acreditando que, secretamente, ansiavam ocupar seu lugar. Afinal, quem eram essas pessoas para julgar se os sapatos Luís Vitao ou seu carro com um cavalo italiano não eram merecidos? Lastimosamente, os amigos apenas aspiravam que talvez ele estivesse predestinado a algo um tanto mais significativo.

Quando o objeto se converte no troféu das suas conquistas, a propensão é que você se torne obcecado por troféus. Observamos indivíduos com 30 carros na garagem, 60 relógios, 120 pares de sapatos, um closet de roupas mais amplo que muitas casas (e uma rainha já perdeu a cabeça por isso). A vida deles torna-se uma incessante busca por mais um troféu, repleta de símbolos que apenas eles enxergam.

Possivelmente, nossa sociedade espera dos ricos uma nobreza peculiar, a nobreza de compreender que, embora possam realizar tudo com facilidade, são referências. Suas ações têm o potencial de influenciar positivamente uma sociedade que, provavelmente, nunca terá as mesmas facilidades. Deve ser um considerável dilema: utilizar suas riquezas apenas para suprir suas necessidades ou adotar uma postura comedida, conscientes de que, com suas vidas fáceis, podem deixar um legado benéfico.

Numa certa ocasião, Lucas desembarcou em Jurerê Internacional, um recanto amplamente louvado por sua beleza natural e pelo jogo de ostentação, independentemente da real posse.

Ladeado por alguns amigos, todos devidamente harmonizados, com dentes cintilantes e barrigas esculpidas por ozempic, reservaram um camarote exclusivo para eles e potenciais convidadas que encontrariam durante a festividade. Para os não iniciados, camarotes são modernas baias que apartam os corcéis com recursos dos demais, destituídos de pedigree; são também um magnífico atrativo para damas respeitáveis selecionarem com zelo seus pretendentes de valia. Contudo, nem sempre tal artimanha obtém sucesso, como bem sabe certo lateral direito.

Lucas, então, assumiu sua faceta mais suntuosa, festejando sua opulência como se fosse um legítimo merecimento. Nesse zênite de contentamento, deparou-se com Priscila e suas companheiras – formosas, jubilosas, com semblantes meticulosamente moldados em consultórios, corpos expostos com um bronzeado que parecia vindo dos céus. Um convite polido para o camarote e, ah, a festividade estava completa, com jovens e donzelas compartilhando a mesma área, bebidas à discrição e o acaso dos belos desenrolando-se plenamente.

Num primeiro olhar, Lucas e Priscila se entregaram a um beijo; aliás, não se faziam necessários flertes, conversas ou rituais amorosos como os praticados pelos antigos mesopotâmicos, pois o acaso dos belos já prescrevia que o beijo e o romance deveriam ocorrer.

Lucas estava genuinamente jubiloso, pois era bastante corriqueiro que uma mulher deslumbrante se interessasse por ele. Nesse estado de satisfação, ele mesclou eventos de vodka, uísque, champanhe e gin, e os desejos começaram a expandir-se.

O Sr. Madeira passou a sentir-se no direito de ensaiar abordagens com outras damas, afinal, o camarote era seu, encontravam-se no apogeu. Por que não encarnar o Gengis Khan tupiniquim e agregar outras senhoritas ao harém?

Priscila, perspicaz, experiente e astuta na arte de ser troféu nas mãos daquele que tem tudo, não se fez de rogada e empreendeu uma busca por outros pretendentes no mesmo camarote. Lucas não logrou ampliar suas conquistas e prontamente buscou Priscila para efetivar o ato de amor puro que o acaso dos belos lhes prometera há pouco. Entretanto, como o cronômetro do amor seguia uma cadência diferente para Priscila e Lucas, nosso estimado Sr. Madeira deparou-se com ela nos braços de outro arauto da beleza.

O sangue pulsa veloz, a cólera pela negligência ao amor que ele devotara à sua donzela subiu-lhe à mente. Um princípio de tumulto, discussão, e até mesmo um copo Stanley em voo ocorreu, mas logo tudo foi serenado pelos guardiães que lá labutavam, ostensivamente irritados.

Nervoso, Lucas olvidou-se dos votos de homem honrado, fino e elegante, e recolheu-se ao seu aposento em um misto de pranto, ira, compaixão e sensação de traído. Tentou rememorar todos os “truques” de superação aprendidos em cursos de administração que prometiam um doutorado em um final de semana, mas em vão. A raiva primitiva era o que dominava a mente do Sr. Madeira.

Pode ser que lhe ocorresse que o ouro, seja material ou emocional, pode induzir a ações que verdadeiramente revelam sua essência. No entanto, a celebração da própria opulência, apenas por si mesma, é uma mordida no próprio rabo que, ao fim, resultará em dentes desgastados e um rabo dolorido.

A extravagância contemporânea e a busca por valor e virtude na sociedade estão intimamente entrelaçadas ao que se pode adquirir: carros, plásticas, mulheres, festas. No entanto, Lucas se confunde, pois valor e virtude transcendem essas superficialidades.

À medida que a cólera cresce, ele erige estruturas para justificar a situação: a donzela não valia nada, o jovem era um talarico, em Jurerê ninguém vale nada. Contudo, no epílogo da ópera, ele desempenha sua habilidade máxima: já adquiriu o camarote de excelência para o Carnaval de Salvador. Quiçá lá ele não encontre alguém semelhante a Priscila, mas distinto dela.

Quanto a ele e sua postura, estamos a 0 dias sem perpetrar um deslize.

Achados e Perdidos de Assis

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