Capítulo 01 – C’est Magnifique | Melody Gardot, Antônio Zambujo
Numa trama tecida por desventuras amorosas, deslindam-se palavras piegas, afetos ilusórios e egos açoitados. Uma linha tênue, que atrevo-me a nomear amor, entrelaça esses fios delicados.
Este conto prescinde da atenção dos que supõem possuir o entendimento do amor, daqueles munidos pelo acaso dos belos ou dos vigorosos mascarados que evitam o amor incessantemente. Provavelmente restarão poucos interessados, todavia, a narrativa desvela-se sobre os escassos que tola e ardentemente buscam a quintessência da existência.
No ano de 2012, ela ainda não desabrochava na existência. Após um o término de um quase amor me envolvi numa entusiasmada conversa casual com uma professora de negociação internacional na academia, discorremos acerca da distinção na edificação do amor entre culturas orientais e ocidentais. Curiosamente, longe estávamos de sermos entusiastas de ervas ilícitas.
“No Oriente, amam com a essência do amor, enquanto no Ocidente, amamos permeados pela dor.”
Insólito, preconceituoso, generalista e preciso, ainda que só viesse a compreender isso cinco anos depois. A explicação, segundo ela, é singela: no Oriente, quando se nutre apreço ou interesse por alguém, empenha-se em propiciar-lhe bem-estar, e caso haja reciprocidade, o ciclo de gentilezas expande-se, até que essa fricção positiva transforme-se em amor.
Na região do amor mercantil (ocidente), inicialmente selecionamos a quem dedicaremos nosso afeto, para então apressadamente tecer uma aura em torno dessa escolha. Contudo, mesmo com tal empenho, o amor só desabrocha na ausência, quando se dão conta, após inúmeras cicatrizes amorosas, de que viver separados é penoso, ou se a dor da falta de alternativas torna-se insustentável.
Evitarei demorar-me em 2012, um ano desafortunado. Prefiro adentrar logo em 2022, céu cinza, frio, vento, Londres. O incessante murmúrio do metrô sugere a ausência de tempo para sentimentos, mas, ironicamente, tudo ali é vertiginosamente veloz. Precisamos sentir com rapidez, amar com celeridade, chorar e experimentar a felicidade de maneira efêmera, pois não nos é permitido perder as escassas oportunidades da luz solar. Toda a estrutura da cidade, dos ônibus vermelhos aos imponentes edifícios debruçados sobre o Tâmisa, insinua que é necessário experimentar, sentir qualquer coisa, mesmo que seja o êxito na carreira, dinheiro ou um diploma. Londres não se apresenta como uma cidade romântica, entretanto, paradoxalmente, nos impõe o imperativo de amar.
Nas urbes de climas cinzentos, o sorriso assume a valia de uma lanterna, pois jamais se preconiza quando serás o sol para alguém naquela Gotham City esteticamente encantadora.
O medo, constante companheiro, revela-se prontamente, pois, aprendi a tê-lo sempre nas proximidades. Contudo, ciente de que ele é meramente a cortina de fumaça a ser atravessada, considero-o, sem dúvida, o menor dos obstáculos.
Retornar aos estudos desafia, desvela o âmago e desnuda o verdadeiro ser, revelando-o como um eterno aprendiz.
O condimento mais insólito reside no fato de se ter mais idade do que a maioria dos colegas de turma. A princípio, julguei isso benéfico, pois, com as discrepâncias de interesses e assuntos, poderia focar mais nos estudos. Entretanto, quão tolo eu era, pois desconhecia que seria atropelado por uma simples brisa meridional.
Capítulo 02 – Because it’s you | Jung Seung Hwan
Alguns sons se revelam audíveis, enquanto outros se dissimulam ao ouvido. O amor e o desejo, entrelaçados em uma trama sutil, podem, à primeira escuta, ecoar de maneira semelhante, mas irrefutável é o momento em que o inaugural timbre de uma voz se inscreve de maneira inapagável na mente, proclamando com sutileza indescritível.
“Voulez-vous coucher avec moi”
Para os que aguardavam sinos a repicar, sorrisos doces e olhares ávidos, implacáveis, com rosas desabrochando, peço desculpas pela desilusão. Nosso encontro se deu na tentativa de persuadir um amigo tailandês, em comum, em favor de outra donzela francesa, como se fosse a frase fosse um refinado elogio. Para um brasileiro ordinário, imbuído na cultura cristã tupiniquim dos anos noventa, a expressão “Voulez-vous coucher avec moi” era tão familiar quanto um simples “bom dia”.
Ao notar minha compreensão da expressão, ela ruborizou-se por escassos cinco segundos, mas logo após, o encanto e a ousadia, tão característicos de sua persona, instigaram-me a colaborar na persuasão do tailandês a se aventurar nesse ato de imersão linguística na cultura francesa. Naturalmente, os resultados foram infrutíferos.
Creio, ainda que sem fundamento real, que a maneira como se despede pode moldar a percepção que terão de você no porvir. Contudo, após nossa inicial interação, sua presença tornou-se irrelevante nas semanas subsequentes. Retornou à França, mas involuntariamente deixou um cordão umbilical, preservando um sentimento que sequer havia nascido (a saudade do que ainda não vivemos – anotação para o jovem Ney), assemelhando-se a uma gestação incógnita, apenas em seu primeiro mês.
Esse elo era sua mais dileta amiga, também proveniente da França, compartilhando a mesma sala de estudos. Preferia realizar as atividades na sua companhia, encantado pela beleza de sua voz, sempre buscando ouvir aquele inglês, tingido de sotaque franco. Naquele instante, esse som já havia alugado um triplex em minha mente, contudo, na verdade, era apenas o primeiro tijolo. Eu, insensato, desconhecia o que seria edificado…
Passaram-se quinze dias e eis que ela retorna; nenhum contato de relevo, até que, por uma singular coincidência, transfere-se para a mesma sala. Curiosamente, tal mudança ocorreu na última semana da permanência de sua dileta amiga na escola.
A cada sexta, cultivava-se a tradição do almoço entre os alunos, em um restaurante desconhecido. Optei por um italiano pitoresco, de nome “Ave Mário”, situado em Covent Garden. Era esplêndido, repleto de luzes, com uma justa etiqueta de preços. No entanto, nosso grupo de estudantes direcionou-se a outro estabelecimento.
No derradeiro dia da estadia de sua amiga, formulei um convite despretensioso e gentilmente lhe transmiti o endereço. Não alimentava a expectativa de que ambas comparecessem, ainda menos prevenido para a surpresa de que uma mesa para duas pessoas já se encontrava reservada. Elas, por sua vez, compareceram, aceitando de forma incontestável o convite.
Assentamo-nos em quatro cadeiras, e nesse instante despertou-se em mim o interesse de desvendar a personalidade da senhorita de olhar firme e soberbo que compartilhava o assento ao meu lado.
Descobri que mantinha um relacionamento amoroso, apreciava os encantos das praias, sugerindo a Córsega para os dias de verão, apreciava os acordes do hip hop e, para completar, que charme exalava por entre seus traços.
Concluímos, naquele momento, um intrigante almoço, porém não sem que ela partilhasse comigo a singular revelação de que o banheiro do restaurante se revelava o local mais notável para a captura de fotografias. Pouco eu sabia que, nos meses subsequentes, ela acertaria em muito mais aspectos, iniciando assim mais um “7 a 1” para quem se achava um ser de coração duro.
Ao nos despedirmos após o almoço, buscando amenizar a tonalidade do adeus, indaguei-lhe sobre como enfrentaria a vida em Londres sem sua mais estimada amiga. Ela, sem hesitar, replicou: “Simples, diariamente tomarei café nas proximidades da escola, e você será minha companhia.”
Irrecusável era a ordem, emitida com tom imperial, no entanto, estipulei uma condição; por não ser apreciador de café, solicitei uma troca de lugares, um pedido que permaneceu inalterado, sem ser atendido.
Capítulo 03 – O Meu Amor | António Zambujo, Carminho
Na manhã do segundo dia da semana, sob o céu indeciso de Londres, cuja incerteza desafio, presumo que nem a Rainha, ícone da nobreza moderna, apreciaria, vejo-me atrasado para a aula. No entanto, essa demora é uma tradição partilhada entre mim e aquela que aos poucos preenche meus pensamentos.
Nessa harmonia de perenes atrasos, a mestra solicitou que nos uníssemos em duplas para conceber um podcast sobre temática à escolha. Suas obrigações estendiam-se até às 15h, enquanto as minhas persistiam até as 16h30. Assim, acordamos um encontro para as 16h40, numa praça adjacente ao educandário.
Com dois interlocutores infindáveis em palavras, como delinear o tema?
Ela ansiava dissertar sobre o refinado estilo fashion da rainha da Inglaterra, enquanto eu, versado nas distintas culinárias de Brasil e França (já que a inglesa é, por assim dizer, incomparável), buscava outro foco. Ao término, para evitar desavenças, optamos por abordar “viagens incríveis”. Contudo, a ânsia por imprimir sua marca em tudo a levou a sugerir que entrevistássemos transeuntes aleatórios. Ideia magnífica, pois, daí em diante, duas horas transcorreram em plena diversão.
Diante de sua hesitação em abordar desconhecidos, alegando que uma mulher francesa não deveria iniciar conversas, discerni, como conhecedor da natureza francesa, ser uma desculpa infortuita. Os obstáculos ao comunicar-se com estranhos em inglês culminaram no momento sublime em que ela entrevistou um jovem que partilhou sua extraordinária viagem pela Austrália. Ao indagar sobre dicas (ou “tips”, na língua inglesa, potencialmente confundível com gorjeta “Tip”), a expressão perplexa do jovem revelou-se ao tentar compreender por que a jovem solicitava uma gratificação após entrevistá-lo. Foi o primeiro vislumbre de sua total timidez, embaralhando-se ao tentar remediar a situação.
Assombroso é o entrelaçar dos destinos, pois à medida que dialogava com ela, crescia em mim o anseio de desvendar seus mistérios. No entanto, igualmente notável é nosso dom de divinizar os ínfimos detalhes da pessoa quando o amor está em gestação.
“Desejo compreender-te melhor!”, proclamei a ela.
“Mas já estás em processo de conhecer-me, não?”, replicou, ágil na resposta.
“Não, meramente trocamos palavras; desconheço quão profundo preciso adentrar para verdadeiramente entender-te.”
“Conhecer-me é simples; o desafio reside em conviver comigo.”
“Certamente há maneiras mais aprazíveis de suportar a tua presença.”
“Quem se aventurou, desistiu de pronto.”
“No entanto, eu trago minhas técnicas, artimanhas e ensaios.”
Entre dois recatados diante da ousadia dos sentimentos, tudo se converteu em um beijo; como se já estivesse predestinado, cada contorno de seus lábios harmonizava-se com os meus, minhas mãos, firmando sua nuca, ajustavam-se como luvas. Em certo instante, parecíamos respirar em sincronia, como se fosse possível compartilhar o mesmo ar.
Não abrigava incertezas de que tal evento estava predestinado a ocorrer.
Capítulo 04 – Our Love is Easy | Melody Gardot
Numa matinal promessa de amor comprometido, ela faltou à aula, transformando uma apresentação que seria a amarra do par em mera zombaria compartilhada. Para mim, nada havia de humor, pois quando sua voz ressoou na sala, experimentei o vazio. Constatei que mergulhava em um afeto ausente, onde, uma vez mais, teria de oferecer tudo de mim para conquistar um mínimo dela. Pff… Meros pensamentos.
No reino do afeto, avulta o receio; onde viceja o temor, a serenidade se esvai. Não almejei conceder espaço à hesitação, julgando-me indigno dos primores desta existência, embora me encontre envolto em amor à mercê das marés. Pois, onde o amor floresce, desabrocha também o valor e a ventura.
Ao cabo de dois dias, um encontro taciturno preencheu a sala; ela, habitual ocupante do recanto derradeiro, deslocou-se até a mesa atrás de mim. Assentou-se e, estirando o corpo sobre o tampo, implorou-me desculpas com a leveza dos dedos.
Como o amor é afeito à simplicidade, essa eloquência é saborosa de apreender. Ao acariciar seus dedos com olhares redentores, compreendi que a decisão era una: persistir no amor até quiçá atingir o seu ocaso.
O que me perturba sobremaneira é a sua maneira suave de me cercar, sussurrando palavras absurdas em meu ouvido, como quem lê qualquer obra. É uma certeza leviana, depositando sobre meus ombros toda a responsabilidade pelos detalhes e deleites de seu ser.
Seus suspiros constituíam uma evidência incontestável da entrega ao momento. Toda emoção e fineza emergiam de modo cristalino e plenamente audível, manifestados em numerosos, inumeráveis e intermináveis suspiros.
Tudo outrora vedado a ela tornou-se viável, ainda que naquele instante o viável fosse o proibido.
Por mais deleitável que seja o prazer oculto, o amor clandestino repousa em uma caixa, e como todo amor, cresce, se alastra, irradia cada vez mais, até que, num dia futuro, transborde. Não há escolha, o amor genuíno transborda. Ou você amplia o recipiente ou, em dado momento, se encontra a limpar as consequências do transbordamento.
Os dias avançaram, assemelhando-se a horas, porém, sempre sob a pequena fenda de luz que a cortina teimava em revelar, recordando-nos de que um mundo persistia do lado de fora. Para nós dois, esses dias foram um estudo aprofundado das diversas maneiras pelas quais o amor forja suas conexões, desde as mais delicadas até as mais abruptas.
Desempenhamos diligentemente nosso papel de cientistas do amor.
Capítulo 05 – The Way You Said Goodbye | Jack Savoretti
Após horas que se assemelhavam a anos e, de fato, constituíram semanas, algo cedeu, ou melhor dizendo, pesou.
Um dos dilemas do amor é a sua necessidade de certa liberdade para evitar a culpa, pois esta figura como um dos grandes assassinos desse sentimento. A culpa introduz uma lógica que não encontra eco na linguagem do amor.
“Ah, meu afeto, meu dulcíssimo, terno e admirável sentimento. Urge confessar que te amo neste instante, que amei enquanto me foi possível, pois, quiçá, no porvir, não me será permitido expressar e sentir tal emoção.”
Tu desvendaste a maioria de meus mistérios, eu percorri todos os teus trajetos. Sobreviveste a golpes de um amor profundo, mas te perdi em um insignificante detalhe. Acredito que carecíamos de mais perícia para manejar tal situação, contudo, exigir isso seria demasiado. O mesmo ímpeto que nos uniu seguiu incansável, trabalhando para nos separar.
Este ímpeto sempre presente, como um carrossel, gira em torno daquilo que ele próprio criou. O Deus do ímpeto é cruel, exibe rios, campos, o paraíso, mas também revela que tudo aquilo é seu e que deve findar. O ímpeto nos arremessou, implacável.
O dia encontrava-se incomumente cálido; julguei ser impossível aquecê-lo ainda mais, mas conseguimos.
Num dia peculiar, desprovido de contatos, planejamentos ou eventos secretos com ela, de maneira egoísta, tracei planos para uma celebração com amigos, na esperança egoísta de que, em algum momento, ela surgisse.
Após um terço de “là patrie cachorrs” e um Malbec Francês de baixo custo, eis que ela surgiu, como se aguardasse aquele instante um tanto alcoólico e próximo à alegria. Veloz, com seu inglês carregado, proferiu:
“É necessário conversar contigo, mas não neste lugar.”
Pelo tom, não denotava algo prazeroso, tampouco meramente uma piada para uma nova sessão discreta de amores efêmeros.
No recinto, ela mal respirou ao dizer:
“Urge interromper este caminho; estou afastada de minha família e desejo me reaproximar de meu namorado. Se deixarmos de nos comunicar, será de grande auxílio.”
O néctar rubro quase retrocedeu pela minha garganta, tudo estagnou. A amálgama de contrariedade, surpresa, traição e impotência coalesceu, e meu intelecto optou pelo silêncio; nenhum verbo reverberou nos momentos subseqüentes.
Meu olhar, gélido e incrédulo, evitava expor qualquer afeto, pois pressentia que este seria desfavorável. Sinceramente, não aprecio manifestar minhas emoções mais sombrias.
Após um longo período de quietude, ela, de maneira incisiva, interpelou-me:
“Você não tem nada a dizer?”
Sem desejar parecer descortês, mas ao mesmo tempo percebendo a irrelevância de qualquer formulação, repeti com parcimônia:
“Você me instruiu a não dirigir a palavra a você.”
Inadvertidamente, arranquei a última gota daquele sorriso perene.
Com ambas as mãos em meus ombros, desejou-me uma celebração auspiciosa, boa fortuna e pediu desculpas.
Ágil, como todos que possuem certeza em suas ações, retirou-se, sem um abraço, sem um beijo.
Ficarei perpetuamente em dúvida se ela aguardou do lado de fora, se desejava que eu confrontasse aquilo. Entretanto, não logrei avançar; posso enfrentar o mundo pelo amor, mas contra o próprio amor, a batalha é inalcançável.
Capítulo 06 – Melancolía | Jacob Gurevitsch, Concha Buika
Uma semana repleta de chuvosa introspecção, sabe-se lá quantos demônios peregrinaram em diálogos ante a revelação luminosa. Em pleno desenrolar dos dias, a professora nos congregou, mais uma vez, no mesmo agrupamento para uma diligência; inequivocamente, meu ânimo escasseava para tais empreendimentos, especialmente em comunhão com ela. Meu coração, de modo intenso, buscava exorcizar aquele amor que transformara-se em mero parasita enraizado em minh’alma.
Na última sexta-feira, nos encontrávamos na sala quando ela despachou uma mensagem de singela natureza.
“Está tudo ok?”
Poderia eu replicar tal indagação desvelando um tratado de 400 páginas repletas de termos pouco corteses em diversas línguas, entretanto, inclinei-me para um simples “Sim, está tudo ok.”
No dia subsequente, compareço antecipadamente, e eis que ela, logo em sequência, acomoda-se ao meu lado, sem indagações ou olhares dirigidos a mim. Após quatro horas de instrução, a docente anuncia que, na semana vindoura, serei transferido para outra turma.
Seus olhos, então, me fitam com surpresa e melancolia, ao passo que eu, em um suspiro de alívio, reconheço que aquele ambiente se mostrava demasiadamente opressivo para minha persona.
Naquela jornada, ela retoma a interlocução comigo, inquirindo acerca de minha presença na despedida de alguns amigos em comum, marcada para o mesmo dia no Elephants Head, um aprazível pub dançante em Camden Town.
Contendo-me nas palavras, limitei-me a assegurar-lhe que compareceria, ansiando secretamente por uma negação de sua parte, uma revelação de que tudo não passava de falácia ou uma mudança de desígnios. Contudo, sua única réplica foi afirmar que nos encontraríamos lá.
As sextas-feiras, por costume, revelavam-se propícias a uma garrafa de vinho antes de adentrar o pub. Dispensa-se dizer que tal intento revelou-se desafortunado; embora eu chegasse ao estabelecimento com alegria, entre amigos, música, vinho, e a presença dela, mesmo desprovida do amor que tanto carecia, não poderia me mergulhar em desalento tão profundo.
No instante inaugural dentro do pub, acomodamo-nos lado a lado. Cadeira exígua, corpos confluindo. Seu aroma subjugava todos os meus sentidos. Constatei quão intensamente desejava envolver cada particularidade daquele corpo, reencontrar cada estremecimento evocado pelo meu toque. Parecia algo remotamente distante, entretanto, há pouco mais de uma semana, era, de maneira esplendidamente real.
Após findar minha cerveja, ela me convidou a dirigir-nos ao exterior do pub, capturar algumas imagens. Contudo, antes desse empreendimento, congregamos todos os amigos para uma fotografia coletiva. Ao revisitar essa imagem tempos mais tarde, constatei que era nosso único retrato conjunto. Uma oportunidade dissipada.
Fotografias ao crepúsculo em Camden Town; ela harmonizava-se com o sol poente naquele instante, um amarelo melancólico que, em algum momento pretérito, já resplandecera com fulgor e estabilidade.
Ao desfecho, ela proferiu que necessitava retornar ao lar, contudo, prometendo regressar. Já familiarizado com a clássica artimanha francesa, não me surpreendia; um abraço, outro perfume, e um beijo discreto nos lábios, seguido do adeus.
Curiosamente, o desejo permanecia íntegro, enquanto o amor, esse já se assemelhava a um telhado repleto de buracos, perfurado por incertezas e inseguranças. Por que ela ceifou algo predestinado a fenecer?
Uma hora transcorrida, ela me remete uma mensagem a comunicar sua decisão de não retornar. Para mim, representou uma carta de alforria; acompanhada por 75cl de vinho e duas pints de Camden Hell que já repousavam em meu ser, compreendi que, de fato, tudo havia chegado ao fim. Nesse ínterim, uma jovem aproxima-se ao meu lado, fita-me e, indagada sobre seu estado amoroso, responde dizendo que não tem ninguém no coração.
Dessa forma, firmamos um acordo, um beijo entre almas interessadas. Se desejarmos mais, estabeleceremos outro entendimento. No entanto, deixei claro que meu coração residia em outro recanto. Assim, a noite extinguiu-se ao alvorecer, às seis horas da manhã.
Outra ilusão, o amor não se substitui por amor; pode-se, sim, desviar a atenção, entretanto, o fardo do amor não cicatrizado e a essência do amor simulado emergem inclementes sobre os ombros de sua moral.
Capítulo 07 – Les Feuilles Mortes | Yves Montand
Despertei em tardio sábado. Eram já 4:00PM quando deparo-me com múltiplas chamadas dela em meu telefone. A inquietante mistura de preocupação e culpa me instiga a discar imediatamente, embora a culpa se revele desprovida de justificativa alguma.
Silenciada permaneceu até a matutina de domingo, quando regressou com mensagem direta e lacônica.
“Decidi interromper meu curso e retornar à França. Apenas desejava notificar-te; meu trem parte na quarta-feira.”
Engoli em seco, o sabor do beijo da outra moça emergiu metálico em minha boca, como se minha atitude de liberdade simulada estivesse integralmente equivocada. Com meu narcisismo exacerbado, concluí que aquele ato na sexta-feira foi o catalisador para sua partida. Uma lógica que se desfaz, pois era ela quem vinha me evitando na última semana.
Jamais antevejo as dimensões do abismo antes de precipitar-me, porém, naquele instante, testemunhei a vastidão do fosso entre ela e eu.
Indaguei sobre o motivo, e ela, com franqueza, afirmou que era precisamente isso, recusando-se a adentrar em minúcias.
Superior em dissimular afetos, ela desvela-os com vigor e certeza nos momentos propícios. Certa ocasião, investiu o dia em mensagens sobre a escola, e eu, equivocadamente, presumi ser mera inquietação acadêmica. Ao findar o dia, ao nos reunirmos, revelou que era apenas uma artimanha para permanecer próxima de mim sem incorrer em sentimentalismos.
Desejava escoltar-lhe até o desfecho, agora que dispúnhamos de uma data definida para a consumação de tudo. Convenienciou-se que eu a acompanharia na manhã da segunda-feira à escola, para que pudesse despedir-se de todos e oficializar sua retirada junto à direção.
Nossos matinais abraços costumavam ostentar maior fascínio, entretanto, aquele revelou-se gélido, cerimonioso e carente de emoção. Perambulamos pelos corredores escolares, trocamos despedidas com amigos e, ao derradeiro instante, na tentativa de estender um pouco mais o adeus, convidei-a a participar do piquenique da turma nos campos de Lincoln’s Inn fields, um parque aos arredores de Holborn.
Para meu assombro, ela aceitou, e em meu íntimo, regozijei-me, ainda que fosse para sustentar, por mais algum tempo, as frágeis amarras daquele amor agonizante.
No decorrer do piquenique, esforçava-me por encenar uma normalidade fictícia, engajando-me em conversas com todos. Era inato a nós ambos o ato de dissimular, pois, mesmo enquanto, internamente, transbordávamos de amor, fazíamos de conta que nada extraordinário estava a transcorrer.
O relógio já marcava horas avançadas, tarde da noite e tarde demais para resgatar aquele amor. A despeito disso, ao desfecho do piquenique, de maneira surpreendente, ela propôs que dormíssemos juntos. Quisera eu poder recusar, porém, negar seria traição, e o primeiro a ser traído seria eu mesmo.
Capítulo 08 – La Chanson des Vieux Amants | Melody Gardot
Aquilo que à primeira vista jazia sem vida, eis que ressurge. Por que deter-se diante do inevitável desfecho? Tal indagação permanecerá para sempre enigmática. Assumo, resignado, que minha inatividade concorreu para a consolidação da concepção precoce do fim por ela imaginado. Ao derradeiro desfecho, amor e dor se farão presentes, inútil é buscar resguardo.
No afã insensato de prolongar aquele momento, enquanto ela repousava, adquiri uma passagem com destino a Bruxelas para ela, dois dias antes de minha volta aos Estados Unidos. Bruxelas seria onde meu voo partiria.
Despedir-me não me apraz, não é de meu feitio, e desajeitado sou nestas formalidades finais. O trem que a conduziria a Paris partiria pela manhã; assim, antecipei-me, alvoreci, providenciando o café, deixando meticulosamente arrumado na cozinha antes de partir. Remeti-lhe o bilhete para Bruxelas por meio eletrônico, acompanhado de uma carta, cuidadosamente escrita à mão.
“Meu pequeno capricho, me acostumei mal a ter você por perto.
A maciez de teu corpo, a suavidade de teu toque, o sol que resplandece em teu olhar, e até mesmo a gramática imperativa que emana de tua fala tornam cada experiência mais aprazível.
Amar-te foi um deleite, presenciar de perto o som de tua respiração, um privilégio que não deveria findar.
Não vislumbro o momento propício para proferir adeus, quiçá nunca se faça necessário.
Na arrogância de buscar um desfecho mais digno, providenciei tua passagem de Paris a Bruxelas, na esperança de que assim se acredite merecedora de um epílogo mais sublime.
Anseio que os devaneios amorosos não nos surpreendam novamente, almejo que teus retornos sejam frequentes, e nesse incessante vaivém, quem sabe, um dia resolvas permanecer para sempre.”
Com Amor
WJS
Deixei-a assim, entregue ao sono, serena e ciente dos vindouros passos, enquanto, é claro, alimento a esperança de que esses passos a reconduzam até mim.
Capítulo 09 – Comment Allez-Vous? | Leslie Clio
Desde hoje até Bruxelas transcorreu um mês. Neste intervalo, nenhuma notícia dela me alcançou, tampouco ousei enviar qualquer mensagem. O Instagram, por vezes, assume o papel de um meio de comunicação indireto e telegráfico, imagens que expressam muito, vídeos breves que silenciam, mas para quem anseia pela palavra amada, cada ínfimo detalhe reverbera como eloquente comunicação.
Já ouvi certa vez que o amor é o Wi-Fi da alma. Hahah, faz sentido, pois é uma conexão que escapa das explicações; podemos afirmar que amamos aqueles que nos proporcionam bem-estar, mas como elucidar o amor por aqueles que já não compartilham este plano conosco? E como justificar as batidas apressadas do coração por alguém que acabamos de cruzar em nossos caminhos?
O amor, despedaçado no alvorecer da criação, espraiou-se, amalgamando-se minuciosamente em uma intrincada teia de conexões.
E foi isso que aconteceu, conexão.
“O amor é o Wi-Fi da alma”
Deyse(2022)
Capítulo 10 – Lá Bohème | Charles Aznavour
À ardente temperatura de 35 graus, Londres despertava às 10:00 da manhã. O relógio, imperturbável, marcava o iminente horário de partida do meu trem rumo a Bruxelas, às 01:01 da tarde. Em sobressalto, rompi o limiar do sono após uma festividade de despedida memorável. Tinha diante de mim a árdua tarefa de arrumar minhas malas, banhar-me e dirigir-me apressado à estação ferroviária.
Às 10:02 da manhã, mergulho nas águas do banho, buscando clareza para o dia que se desenha. Às 10:12, atendo o telefone, cedendo espaço ao diálogo com Bruno. Vestir-me, tarefa que se impõe, consome os minutos até 10:15, quando, no corredor, despeço-me de Bruno. Às 10:20, diante do desafio de organizar pertences, embarco na confusão das malas, concluindo a tarefa tumultuada às 10:49. Despedidas ecoam na recepção às 10:55, especialmente na despedida de Ivone.
Às 11:00, sigo para a última estação do “underground inn Caledonian road”. Às 11:12, emergo em King Cross, onde, pontualmente, às 11:32, alinho-me na fila imigratória. Às 11:55, o carimbo no passaporte imprime meu destino: Bruxelas. Meio-dia se instaura, convidando-me a uma breve pausa para alimentar o corpo.
Às 12:30, os portões de embarque se anunciam, e às 12:40, sento-me, equivocadamente, no vagão errôneo. Às 12:51, corrijo o equívoco, assentando-me no lugar devido, enquanto, às 13:01, o coração acelera, ansioso pela jornada que me conduzirá a Bruxelas.
Era sábado, embora sua passagem estivesse marcada para o domingo, e ambos permaneceríamos até terça. Cada minuto após a partida do trem adquiria uma intensidade singular, a ponto de cogitar a contagem minuciosa das batidas do meu coração (ainda que tal cálculo se mostrasse insignificante), assim como as respirações que eu ousava tomar. Tudo isso, pois o tempo, obstinado, deslizava em passadas mais lentas; o receio e a contentação, como viajantes concomitantes, trilhavam seus destinos dentro de mim. O temor de sua ausência se confrontava com a alegria da iminente reunião. Entre essas dualidades, apenas uma delas se materializaria.
E se ela vier?
E se ela não vier?
E se… e se?
O “se” revela-se, de fato, um conselheiro desafortunado.
O entrave residia na absoluta centralidade dela, pensamentos moldados por sua imagem, ideias orbitando em torno dela. Assim, para melhorar meus pensamentos nos escassos momentos remanescentes do sábado, decidi percorrer a cidade. O epicentro pulsava de vida, a praça central exibia-se adornada por flores e fuligem, celebrando a Assunção de Nossa Senhora.
Tal dogma, promulgado pela Igreja Católica em primeiro de novembro de 1950, quando o Papa Pio XII afirmou que, ao término de sua existência terrena, Maria teria sua alma e corpo elevados aos céus.
Clarões, melodias, multidão, suntuosidades. Sem dúvida, soube eleger um cenário esplêndido para o epílogo que nos aguarda.
Iniciei então a contemplar a alegria, ponderando sobre como devia orquestrar o apartamento para acolhê-la.
O apartamento revelava magnificência, situado numa rua aprazível, de paralelepípedos a conferir-lhe um encanto adicional. Delicadas lâmpadas, penduradas por modestos fios negros, banhavam-no por completo com sua luz.
A porta de tonalidade cinza conduzia a um corredor sombrio, também curiosamente tingido de cinza. Ao final deste corredor, uma escadaria imponente e giratória ascendia majestosamente aos demais pavimentos; o apartamento, por sua vez, situava-se no segundo andar. À entrada, através de um estreito corredor, perfilava-se um amplo quadro negro à esquerda, dominando toda a parede, destinado ao registro da presença de cada hóspede. À direita, revelava-se um intrigante banheiro, onde a banheira, de dimensões reduzidas, mal acomodaria uma única pessoa.
A cozinha ocupava o primordial aposento, sucedida pela sala e o quarto amalgamados, destacando-se um vasto quadro da inconfundível Angelina Jolie, com seus olhos magnificamente grandes e deliciosamente julgadores, que reinava soberano sobre todo o recinto.
Ansiedade domada, e amanhã, às 10:51 da manhã, o trem procedente de Paris desembarca na estação de Bruxelas, trazendo consigo a convicção de que esses vagões hão de transportar algo significativo.
Capítulo 11 – Debes Saber | Charles Aznavour
Às 09:51 da manhã, o trem alça voo de Paris, momento em que o destino lançara seus dados; estaria eu envolto em sua trama, revelando-se somente ao desembarque, numa espera que se estirou como se o próprio tempo, lento, relutasse em transcorrer.
Lá me encontrava, representando o papel que a mim mesmo impusera. Na estação de Bruxelas, apenas um caminho se desenha para quem chega pelo Eurotrem. Entre os vagões e os elevadores, alinham-se catracas, diligentes guardiãs das partidas, expondo a vista a qualquer curioso sobre os desembarcantes. Com perspicácia, posicionei-me à direita do elevador, onde minha visão abarcava a todos que rompiam os vagões e atravessavam as catracas.
Palpitava-me o coração, enquanto mãos trêmulas e suadas sustentavam flores, belas e ansiosas; até mesmo as flores pareciam cientes de minha inquietude.
Eis que enfim surge o trem, robusto, veloz, como se ciente de minha ansiedade, ansioso por comunicar-me as novidades que meu conciliábulo interno aguardava. O trem estaciona, emite seu último murmúrio; pessoas emergem, velozes e alegres, sob o sol do verão europeu. Meus olhos, como um scanner, percorrem cada indivíduo, descartando-os antes mesmo de alcançarem a catraca, caso não revelem a figura aguardada.
Indivíduos passavam ao meu lado, esboçando tênues sorrisos, como se sancionassem minha espera munida de flores; entretanto, um arrepio interno me acometia, pois o único sorriso capaz de acalmar-me ainda não se materializara.
Duas vezes, o fôlego me escapou; duas donzelas, de semelhança à dela, surgiram, uma chegando ao ponto de sorrir. Com minha charmosa miopia, cogitei aproximar-me, apenas para descobrir um alarme falso. O considerável fluxo humano desfilou, entretanto, ela permanecia ausente; escassos indivíduos se retiravam, mas ela, até então, não se revelara.
Dirigi-me a uma figura envergando o uniforme da estação, situada além das catracas, indagando se mais alguém se avizinhava. A resposta afirmativa ressoou, pois invariavelmente alguém enfrentava contratempos com as bagagens.
Era peculiarmente à feição dela: tardia, envolvida em acaloradas discussões, imputando a outrem responsabilidades por erros próprios. À semelhança de Homer Simpson, tinha predileção por atribuir culpas conforme sua conveniência, sempre engendrando argumentos para justificar ausências ou atrasos.
O trem findava o encerramento de suas portas, vagão a vagão, da esquerda para a direita; quando a porta se fecha, nenhum outro será libertado daquele recinto.
Antepenúltimo vagão, encerrado.
Penúltimo vagão, encerrado.
Último vagão, ainda aberto, mais do que o comum.
Primeiramente, uma bolsa emerge, como se, ao reconhecer o ambiente, os braços alvos não deixassem margem a dúvidas; tratava-se de uma mulher de elegância peculiar.
Com passos cadenciados, trajando-se com requinte, ela deslizava para fora, um sorriso nos lábios, encantadora, formosa. Tinha a convicção de que uma mulher de sua estirpe sempre teria o mundo a seus pés.
Apesar de sua beleza deslumbrante, não era ela quem eu ansiava; as últimas portas se fecharam implacáveis, selando o fim de qualquer esperança. A encantadora jovem, agora senhora de mundos, avançou em minha direção com uma desenvoltura lhe parecia inata e, com uma segurança avassaladora, indagou:
“Estas flores são para mim?”
Limitando-me a responder, declarei:
“Acredito que estas flores devem ser suas.”
Com a amarga convicção de que a verdadeira destinatária daquelas flores não mais se faria presente. Ao menos, as flores não foram deixadas à própria sorte. Eu, por outro lado, permanecia atônito, incrédulo, mas aliviado pela dura realidade exposta diante de mim, na estação, por toda a Bélgica.
Uma ignomínia, cujo anúncio parecia ecoar por todos os canais televisivos, em cada recanto da internet e até mesmo pelas ondas do rádio. Decidi retornar ao lar a pé, numa jornada extensa, opressiva e mais solitária do que o comum.
Capítulo 12 – Something In The Way | Jorja Smith
Agora, verdadeiramente, esse amor foi sepultado; tudo que precisava ser expresso, foi expresso; toda a emoção que deveria ser experimentada, foi vivenciada. O amor concedido encontrou reciprocidade. A fuligem das pétalas cobria as sombras que ainda me envolviam, e ali, no meio da rua, ao som de uma melodia real, vi-o dissipar-se em uma fração de segundos. Como fumaça, o amor que me acompanhara até então desapareceu, deixando o coração leve, porém vazio.
A melancolia que nos enlaça causa dor, mesmo quando está firmemente entrelaçada; eu já mantinha cativo esse amor em meu íntimo por longo tempo. Agora, finalmente, permiti que ele se libertasse.
Amei-te, amo-te, já não te amo. Se atravessamos essas três fases com toda a dignidade que o amor requer, talvez um dia ele retorne. Minha musa, em meu lar, o verdadeiro amor sempre será recebido de braços abertos. Se, porventura, necessitares reacender a chama do amor genuíno, recorda-te do que compartilhamos em tão breve lapso temporal.
Cada fragmento desse intrigante quebra-cabeça foi saboreado com deleite: o aroma, o paladar, a respiração, as palavras, a dor, o prazer, o vedado e o sacro, tudo harmoniosamente se encaixou na ordem apropriada.
Os ingênuos creem que o amor é infindável, porém, talvez, sejam eles os verdadeiramente enamorados, pois, levianamente ou por tolice, acreditam na perenidade desse sentimento.
Nosso erro foi em como dissemos adeus, mas esse equívoco é insignificante em comparação com a construção do nosso amor.
Com amor
WJS
Céu 01:27AM
27/08/2022